segunda-feira, 18 de abril de 2011

Poder do Eu aplicado na liderança...


Abaixo segue uma reportagem postada em 16/04/2010, por Tom Coelho , que de alguma forma é bem pertinente à estimulação da auto-percepção do poder do Eu, neste caso, aplicado na liderança:

“O poder, em si, não constitui uma garantia moral:
o poderoso pode ter a espada na mão, mas nem por isso é dono do bem.”
(Contardo Calligaris)


A liderança é uma competência de caráter relacional, isto é, pressupõe uma relação entre duas ou mais pessoas fundamentada no exercício da influência. A regra é despertar o desejo, o interesse e o entusiasmo no outro a fim de que adote comportamentos ou cumpra tarefas. Além de relacional, a liderança também pode ser situacional, ou seja, determinada pelas circunstâncias.

O poder é o exercício da liderança. Em verdade, inexiste isoladamente, pois o que encontramos são relações de poder. Assim, é notório que se questione: como o poder é exercido por um líder?
Muitos são os estudos acerca dos tipos, bases e fontes de poder. Mencionamos, por exemplo, LIKERT e LIKERT (1979), KRAUSZ (1991), SALAZAR (1998) e ROBBINS (2002), mas ressaltando que todos beberam de alguma forma nos escritos de FRENCH e RAVEN (1959).

Fazendo uma compilação destes estudos, identificamos as seguintes formas de poder:

1. Poder por coerção. Baseia-se na exploração do medo. O líder demonstra que poderá punir o subordinado que não cooperar com suas decisões ou que adotar uma postura de confronto ou indolência. As sanções podem ser desde a delegação de tarefas indesejáveis, passando pela supressão de privilégios, até a obstrução do desenvolvimento do profissional dentro da organização. Pode ser exercido por meio de ameaças verbais ou não verbais, mas devido ao risco de as atitudes do líder serem qualificadas como assédio moral, o mais comum é retaliar o empregado, afastando-o de reuniões e eventos importantes, avaliando seu desempenho desfavoravelmente ou simplesmente demitindo-o.

2. Poder por recompensa. Baseia-se na exploração de interesses. A natureza humana é individualista e, quase sempre, ambiciosa. Ao propor incentivos, prêmios e favores, o líder eleva o comprometimento da equipe, fazendo-a trabalhar mesmo sem supervisão. A recompensa pode ser pecuniária, ou seja, em dinheiro, ou mediante reconhecimento e felicitações públicas. O risco de se usar este expediente como principal artifício para exercício do poder é vincular a motivação das pessoas e sua eficiência a algum tipo de retorno palpável e de curto prazo, inclusive enfraquecendo a autoridade do líder.

3. Poder por competência. Baseia-se no respeito. O líder demonstra possuir conhecimentos e habilidades adequados ao cargo que ocupa, além de atitudes dignas e assertivas. Os subordinados reconhecem esta competência e a respeitam veladamente. Um exemplo fora do mundo corporativo é a aceitação de uma prescrição médica, porque respeitamos o título do médico e seguimos seu receituário mesmo sem conhecer o profissional previamente ou o princípio ativo do medicamento.

4. Poder por legitimidade. Baseia-se na hierarquia. A posição organizacional confere ao líder maior poder quanto mais elevada sua colocação no organograma. É uma autoridade legal e tradicionalmente aceita, porém não necessariamente respeitada. Um exemplo típico é o poder que emana do “filho do dono” que pode ser questionado, embora raramente contestado, se sua inexperiência for evidenciada.

5. Poder por informação. Baseia-se no conhecimento. O líder, por deter a posse ou o acesso a dados e informações privilegiadas, exerce poder sobre pessoas que necessitam destas informações para realizar seus trabalhos. Note-se que o mero acesso a informações valiosas é suficiente para conferir poder a estas pessoas. É o caso das secretárias de altos executivos.

6. Poder por persuasão. Baseia-se na capacidade de sedução. O líder usa de argumentos racionais e/ou emocionais para envolver e convencer seus interlocutores da necessidade ou conveniência de realizarem certas tarefas, aceitarem decisões ou acreditarem em determinados projetos. Trabalha com base em aspectos comportamentais buscando ora inspirar, ora dissuadir os subordinados, de acordo com os objetivos pretendidos.

7. Poder por ligação. Baseia-se em relações. O líder apropria-se de sua rede de relacionamentos para alcançar favores ou evitar desfavores de pessoas influentes. Em tempos de desenvolvimento das chamadas redes sociais, ampliar e usar relações interpessoais constitui vantagem comparativa significativa.

8. Poder por carisma. Baseia-se na exploração da admiração. O líder adota um estilo envolvente, enérgico e positivo e alcança a obediência porque seus liderados simplesmente gostariam de ser como ele. As pessoas imitam-no, copiam-no, admiram-no com a finalidade de identificação.

Dentre todas as categorias apresentadas, não devemos idealizar uma forma de poder específica. Não há certo ou errado. Há o adequado. Em verdade, o mais indicado é que um líder saiba como, onde e quando exercer seu poder de acordo com o perfil dos subordinados, das circunstâncias e de seus objetivos. Assim, o poder carismático ou por recompensa podem proporcionar maior adesão e atração por suas ideias, da mesma maneira que o poder legítimo ou por coerção podem acarretar resistência por parte dos subordinados.

* Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 15 países. É autor de “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional”, pela Editora Saraiva, e coautor de outros quatro livros. Contatos através do e-mail
tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.br e www.setevidas.com.br.

Fonte: http://www.portaloempreendedor.com.br/empreendedor/ler_artigo.php?ordem=763


Um comentário:

  1. Sobre essa questão da liderança, fiquei pensando no conto de H. G. Wells, publicado em 1911. Ele cria uma situação muito interessane que põe em questão o velho ditado - que é velho mesmo!, ou, pelo menos, antigo... - "em terra de cego quem tem um olho é rei". Vejam uma passagem do conto:

    Nunez avançou com os passos confiantes de um jovem que está no começo da vida. Todas as antigas histórias do vale perdido e da Terra dos Cegos voltaram à sua mente, e na sua mente destacou-se esse velho provérbio, como se fosse um refrão:

    "Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei."

    "Em Terra de Cegos, Quem Tem um Olho é Rei."

    E muito cortesmente cumprimentou-os. Falou-lhes utilizando os olhos.

    "De onde vem ele, irmão Pedro?", perguntou um deles.

    "Desceu das rochas."

    "Venho do outro lado das montanhas", disse Nunez, "de fora deste lugar - onde os homens podem ver. De perto de Bogotá, onde há cem mil pessoas e não se consegue abarcar a cidade com a vista."

    "Vista?", murmurou Pedro."Vista?"

    "Ele vem", disse o segundo cego, de para lá das rochas."

    O tecido de seus casacos, reparou Nunez, era modelado curiosamente, cada um com um tipo diferente de costura. Assustaram-no com um movimento simultâneo ao seu encontro, cada um com uma mão estendida. Ele recuou diante do avanço desses dedos abertos.

    "Venha cá" , disse o terceiro cego, seguindo o movimento de Nunez e agarrando-o.

    Seguraram Nunez e apalparam-no, sem dizerem uma única palavra enquanto não terminaram.

    "Cuidado", disse ele, sentindo um dedo no olho, e descobriu que eles achavam esse órgão, com suas pálpebras frementes, uma coisa esquisita nele.

    ...

    E daí vai se desdobrar um final daqueles! Que põe a gente pra pensar. Se quiserem ler na íntegra, está disponível, entre outros textos bacanas, no site: http://deficienciavisual9.com.sapo.pt/r-TerradosCegos-HGWells.htm

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