sexta-feira, 13 de maio de 2011

Um conto de terror e filosofia, nesta sexta 13...

Conto: A gota de mel

Num vilarejo, um camponês abrira pequeno empório. Certo dia veio um pastor de aldeia vizinha, rapaz alto, robusto, atlético, cajado no ombro, canzarrão do lado.
– "Bom dia, amigo! Queria um pouco de mel. Você tem?".
– "Bom dia, pastor! Claro que tenho. Pega uma tigela e traz aqui!".
E assim, com sorrisos e boas maneiras os dois conversavam quando, de repente, uma gota de mel caiu no chão. Imediatamente uma mosca posou nela. O gato do camponês, deitado que estava, ouvindo o zunido da mosca abriu um olho e aproximou-se bem devagarzinho do inseto. De repente com uma patada matou a mosca. Mas o cão que estava atento pulou encima do gato, sufocou-o debaixo dele, mordeu-o e por fim matando-o jogou-o longe.
– "Meu gato! Meu gato!" gritou o camponês. "Meu único companheiro, você o matou!" e pegando um espeto de ferro que estava a mão, enfiou-o goela abaixo do cachorro.
– "Seu canalha, patife, safado!" gritou o pastor. "Você matou o meu ganha-pão, meu fiel companheiro, guardião das minhas ovelhas" e levantando o cajado desferiu terrível golpe na testa do camponês que se estatelou não chão dando o último suspiro.
Um vizinho que passava presenciou a cena e começou a gritar:
–"Assassino! Mataram o nosso amigo! Venham ver".
A aldeia toda acorreu. Homens, mulheres, crianças, pais, mães, filhos, filhas, irmãos, irmãs, sogros, sogras, noras, genros, cunhados, cunhadas acorreram e vendo o pastor com o cajado na mão começaram a apedrejá-lo. Pouco depois o forasteiro desabou e foi trucidado ali mesmo.
Um compatriota do pastor que estava presente, logo correu para a aldeia vizinha e começou a gritar:
–"Mataram nosso pastor! Os covardes atacaram-no todos juntos! Não lhe deram chance! São assassinos!".
A aldeia inteira se levantou e marcharam em direção a aldeia vizinha, alguns com espingardas, outros com picaretas, espadas, pás, pedaços de pau, machado, alguns a cavalo outros a pé, gritando:" Que tipo de gente é essa? Um pobre rapaz vai fazer compras e é assassinado! Que costume bárbaro! São verdadeiros selvagens! Vamos vingá-lo! Vamos!".
E deu-se uma verdadeira batalha. Era para ver quem mataria mais. Com gritos selvagens engalfinhavam-se. O sangue, feito rio, corria pelas ruas. E tudo se acalmou quando não havia mais ninguém dos dois lados.
Esses vilarejos situavam-se de um lado e de outro da fronteira de dois países. Quando o rei de um deles soube do acontecido, convocou seus ministros e disse:
  "Acabo de ser informado que nossos vizinhos atravessando a fronteira, vieram para massacrar nosso povo. Não podemos tolerar tal agressão. Que nosso exército seja mobilizado. Vamos atacar esse país de covardes!"
O outro rei, por seu turno, fez exatamente o mesmo. Iniciou-se então uma guerra sangrenta que duraram anos e anos, semeando terror, fome, e desgraça.
Quando os países ficaram exauridos, a guerra acabou. Os sobreviventes, nunca souberam o motivo dessa guerra.
Muitos anos mais tarde, tudo entrou na normalidade. Tudo foi esquecido pelas novas gerações e as pessoas voltaram a comprar mel ou vinho, sendo bem atendidos nos dois lados da fronteira.

(Ilustração: Elaine Daniela Nascimento- Em 09/02/1999)


Este foi um conto de Hovanés Tumanian, que foi um dos maiores poetas da língua armênia de todos os tempos.
Nasceu em 1869 no vilarejo Dsegh, província de Lori. Era filho do padre da aldeia. Aos dez anos mandaram-no estudar na capital da Geórgia, hoje denominado Tblissi. Após alguns anos largou os estudos e tornou-se autodidata. Em 1886 redigiu, em versos, o seu primeiro conto, o "Cão e o Gato". Em 1890, já era considerado um dos maiores poetas da Armênia. Tumanian foi uma pessoa muito ativa. Enquanto participava de várias revistas literárias como, por exemplo, a revista infantil "As Espigas", interessava-se também pelos problemas políticos de seu país. Isso não agradava o Czar Alexandre I que o encarcerou. Na prisão, observando o mundo em ebulição, escreveu, sempre em versos, o conto filosófico "A GOTA DE MEL", talvez o mais famoso de seus contos. Seria premonição? Logo em seguida estoura a Primeira Guerra Mundial. Tumanian era poeta versátil e se destacava em todos os tipos de poesia:Lírica, Infatis, Contos, Odes e Provérbios,etc.
Sua inspiração provinha do rico folclore armênio e da crendice popular de sua província natal.
Tumanian morreu em 1923.


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